28 março 2011

Amanhã

Abandone as máscaras que cobrem seu rosto e escondem as dores da alma que perfuram o peito afora. Tire essa dor de si, segure-a e prometa não sofrer mais por algo que não lhe garanta uma boa estadia. Mostre-se feliz, que a felicidade virá.
O bom se aproxima, quando o mal se fez necessário. Nada é para sempre. Lembre-se disso mais tarde, quando as ondas do mar soarem como música nos seus ouvidos. Junto delas, virão as palavras. Tais quais eu disse do outro lado do mundo, ao horizonte...
Mas não minta. O olhar sabe ler, sabe interpretar. Você pode disfarçar-se de vírgulas para evitar o ponto final, mas as reticências são quase obrigatórias.
Às vezes a chance está em você, nas coisas que nega. E ela não espera sua vontade. Assim como eu também não. Estou aqui agora, me deixando levar pela ausência do orgulho. Amanhã será um novo dia e, sobre ele, nada sei.

26 março 2011

Procure

Você sabe se existem remédios que curem minhas dores?
Você teve, ao menos, o trabalho de questionar e analisar ambos os lados para encontrar a ponte da certeza que o encaminhe até a luz?
Não.
Infiltrou-se no declínio da facilidade, se perdeu nas linhas da dificuldade, morreu nos braços da saudade. Mas não mudou.
A personalidade forte prevaleceu, disfarçou-se de sonhos e invadiu o meu mundo inventando ilusões dentro do coração ainda fraco. Viu o seu afogamento. Não resgatou.

Mudou apenas o discurso, permanecendo na mesma e antiga peça teatral da vida real.

22 março 2011

Desconhecida rosa

Vi a vida passando, como passa uma criança
Por entre uma flor mansa no jardim da esperança!
Meu caminho era deserto, não havia ninguém por perto
Todo dia era noite, toda noite era vazia.

A estrada longa era em vão, e por ali nada via - a não ser a rosa que trazia...

16 março 2011

— Não me entrego no seu mar;

eu me contenho.
Essas águas paradas,
esse ar escasso.
Seguro, espero; contenho.
Ele agita-se, aparentemente
sem motivo.
Agita, talvez, por reconhecer
a minha intensidade.
A intensidade do meu mar,
ao tocar o seu.
A força da nossa amizade,
quem dera se fosse verdade.

14 março 2011

O assassinato

Era uma quinta-feira, e percorria o trajeto de volta para casa após o dia de trabalho. Avistou, logo no cruzamento da primeira esquina, faróis camuflando-se entre luzes vermelhas. Algo havia acontecido ali. Resolveu parar e, na maior inocência, quis entender o acontecimento. Alguns presentes ali comentavam sobre o acidente e logo constatou que o mesmo se tratava de um possível assassinato. A vítima era uma mulher de aproximadamente 30 anos, que havia sido encontrada morta dentro da sala principal de um apartamento.
Não demorou muito e os policiais invadiram o local em busca de pistas deixadas pelo, até então, assassino. Sua curiosidade o deixava inquieto e quis ver quem era a mulher. Com muita cautela, chegou perto e assustou-se: a mulher da qual a vida não se tinha mais, era sua esposa. A mulher era a mãe de seu filho. Automaticamente, pôs-se a chorar e não acreditava no que via. Não sabia que atitude tomar, para onde ir, o que fazer. Pensou no filho que, às 22:30h, já estava dormindo em casa. Deixou seus sentimentos nas mãos dos policiais e entrou no carro novamente, em direção à sua casa. No caminho, sua cabeça estava perplexa. Mas não deixou de ter fé, ainda que o pior havia acontecido.
Chegou em casa e, cansado, encostou-se no braço do sofá, olhando fixamente a mesa de centro. Lágrimas em excesso escorriam em seu rosto, deixando marcas de uma angústia sem fim. Chorava, mesmo sabendo que isso não ajudaria agora. Escutou passos descendo a escada e, ao olhar para trás, viu seu filho correndo em sua direção. Limpou o rosto, tentando esconder a tristeza.
- Papai, que bom que chegou! Estava te esperando para jogarmos futebol... – disse o menino que, sem imaginar o que acontecera, esbanjava alegria nos seus pequeninos olhos verdes.
Sem força para responder, o segurou em seus braços por alguns instantes, pensando um jeito de contar a verdade.
- Onde está a mamãe? – os olhos ainda brilhavam.
- A mamãe logo chega, meu anjo. Enquanto isso, lembre-se que ela – e Deus – o amam demais. Vamos dormir agora?
Subiu as escadas, com o seu pequeno anjo no colo. O colocou na cama, deu um beijo e desejou boa-noite. Apagou as luzes e ficou observando-o enquanto tentava dormir. Foi em direção ao seu quarto e viu a cama de casal, agora vazia. Chorava, chorava bastante. Aproximou, abaixou-se e tentou descansar. Mas, seus pensamentos inquietos o proibiam.
Contudo, nesse mesmo instante, os policiais encontraram ao lado da caixa de remédios tranquilizantes, uma carta. E nela, o desabafo:

"Estou relatando aqui o meu último adeus e peço para que se cuidem. Vou partir, mas vou partir feliz. Não se culpem. Cuidem-se. E, lembrem-se, nunca apaguem a estrela chamada Fé. Tenho ela aqui comigo e deixei uma com cada um de vocês. Amo-os demais."

Agora, mesmo sem saber da carta, consegue descansar. Não sabe se foi a presença dela que o iluminou ou a sua estrela chamada Fé que brilharia mais forte, o chamando para o descanso eterno.

10 março 2011

Simplicidade

Ah! Como faz falta. Faz falta ter alguém com quem eu pudesse trocar segredos dos mais tolos, rir do mais sério, criticar o mais correto. Alguém que sentasse comigo na calçada para esperar o tempo passar, observando o sol se colocar no devido lugar deixando os seus últimos raios por entre os grandes prédios da cidade. Alguém que me oferecesse a mão quando eu estivesse com medo e estaria de braços abertos para quando o frio me atingisse. Alguém que não se importasse caso eu estivesse triste ou chateada, e procurasse me entender, me ajudar e fazer com que eu melhorasse o mais rápido possível. E que, na mesma calçada citada, me dissesse palavras que provariam a existência do que eu sonhava. Eu queria saber que aquilo era verdade.
Coisas simples como essas me fazem falta. A felicidade é uma chave que está na porta da simplicidade. E é isso que me faz falta.
Eu só preciso de alguém - esse alguém, não importa quem. Desde que seja você.

08 março 2011

A escrava

Me pego imaginando cenas e diálogos que nunca irão acontecer. Acho normal, rotineiro.
Digo nunca, pois sei que não acontecerá. O nunca ocupou um espaço considerável na minha vida e não posso conter mais. Tenho de lidar com as impossibilidades que essa mesma vida impõe. Sou escrava de mim mesma.
Fico na vontade, alimentando esperanças mentais sobre o meu desejo. Coloco chamas no meu pensamento e os deixo queimando na intenção de esquecê-los de vez. Mas, ao invés disso, estou queimando-o dentro de mim. Enterrando-o no poço dos seus iniciais. E, ao fim, nada foi esquecido. Acabou, mas acabou por onde começou.
Não estou livre de nada. Daqui a pouco, amanhã, agora... não sei, qualquer hora esse desejo pode ressurgir e mandar em mim como ninguém consegue. E eu obedeço e crio as regras a partir dessas limitações. Sou a escrava.

Desvio meu olhar de olhos assim, que hipnotizam. Desvio porque sei que não resistirei e acabarei perdida novamente. E não é isso o que eu quero pra mim.

05 março 2011

Carta ao coração

Tenho medo de inícios, pois eles sempre guardam um vestígio de término.
Hoje é mais um daqueles dias em que passo pensando no que poderia escrever para explicar esse sentimento. De onde nasceu? Por que escolheu você? Até quando vai?
São perguntas retóricas como essas que partem o meu coração, deixando-o impossibilitado de amar novamente. Preciso estar confiante, mas a paciência está no limite. A confiança, então, não aparenta melhoras. Mas, não posso te culpar por isso. Erramos e foi culpa de ambos.
De nada adianta olhar o passado com lágrimas nos olhos, se o presente está acontecendo e as chances sendo perdidas. Tento me aproximar, para fazer acontecer o que nosso íntimo pede. Porém, só vejo muros e paredes. Há divisas que me impedem de chegar até você.
Isso me machuca tanto ao ponto de me fazer pensar nas mais diversas dúvidas. Como alguém pôde mudar tanto o roteiro da minha vida? Eu estava tão bem sem ti. Mas agora o jogo virou, a vida mudou: não me vejo assim, tão sozinha.
Você me mostrou o caminho mais curto até o seu lugar e agora não enxergo outro destino. Eu sei que tenta se esconder nessa própria morada assim como eu, contudo o sentimento nos atingiu de forma grotesca e sem escapatória. Seu olhar não engana; seu humor contagia, mas os olhos desmentem.
Tudo virou lembrança e me atormenta com intensidade. Os seus braços, que antes eram meu abrigo, estão soltos. E tenho medo que sejam abrigados por um novo alguém.
Então uma lágrima cai sobre esse texto, deslizando nas letras aqui distorcidas. É sincero demais para ser descartado. Sincero demais para você esquecer, apagar e fingir que nada aconteceu.

[... E tenho medo de términos, pois eles guardam vestígios de um novo começo.]

01 março 2011

Dois anos depois

Não havia percebido, mas sentada aqui, me dei conta do que aconteceu. Hoje completa-se dois anos; dois, dos outros mais perfeitos que existira. Há exatos dois anos estávamos comemorando uma possível eternidade. Quem diria? - eu pensei, buscando solução.
Minha vontade era continuar ali, sentada pelo resto do dia, esperando que as próximas horas passassem rapidamente. Minha mente padeceu e nela, um filme nosso. Um filme com um fim.

Fotos e cartas queimadas, músicas nunca mais reproduzidas, lágrimas que às vezes escorriam. Tudo isso é lembrança que deveria ser esquecida (por que ainda as lembro?).
Hoje você está distante, mas perto. Nossos caminhos andam em direção contrária, mas no sentido físico você está presente. Seu olhar penetrante atravessa meus olhos, é indescritível.

É hoje. Dois anos que se passaram. Peço-te para que lembre - e nunca mais esqueça - de nós. Fomos separados pelo tempo, e é pelo mesmo que podemos nos juntar novamente.