06 março 2012

Esqueça quem já esqueceu

Quanto mais esperávamos o tempo se afastar, mais víamos os olhares a nós direcionados, em nós alarmados, para nós sufocados. Ouvíamos vozes querendo explicar sobre coisas que nem as vozes, nem os donos das vozes tinham domínio completo. Vozes vazias, olhares fundos. Noites e dias perdidos, vazios agudos, um pouco de tudo onde nada havia. Nós sempre querendo mais e mais força fazíamos para burlar isso que nos impedia de nos levar onde não sabíamos. Apenas íamos. Alguma coisa agora tinha de fazer sentido, embora nada tivesse sido sentido antes.

Integrações ocultas.

O inacabado, o sem razão, o mistério. O sangrar dos olhos que permitem há tempos o falar dos lábios presos ao não saber o que pensar. Talvez estivemos o tempo todo errados, e a perfeição imperfeita se consistia em não sonhar. Ainda iremos esperar muito até o patamar mais alto, o ápice enfim. Teremos trabalho e, até lá, poderemos ver pessoas como nós, em nós. O nosso ir é incerto, mas não parado. Indo levando. Fora daqui apenas, onde você veio para doer. Nós doemos.
Situa-se em outros lares. Sua presença tão aclamada não é aqui. Leva-me contigo. Seus dizeres em mim criam paredes. Emparedada; tão diferente de quando livre. E esquece. Eu sou o rio agora, de passagem.

28 dezembro 2011

Derradeiro.

A vida tem sabor de fruto.
É doce.
Encontra-se em árvores presentes até na mais sútil esquina.
Algumas delas lotadas, escapando por sua enumerada quantidade.
Outras mais escassas, épicas, mas sempre qualitativas.

Há um tempo exato entre ambos.
Um pouco mais - ou menos - resulta num surpreendente fracasso.
Antes demais, é precoce;
além, apodrecida.

E isso poucos sabem.
Colher a porção indicada, no instante de indubitável precisão.


No encerrar as coisas se igualam. Frutos, vida. São retirados sem aviso prévio, perdem a essência saborosa. Para a viagem eterna no caminho mais incerto, que é certo de haver. Incoerentemente. Esperando o seu veredito final para o descanso, enfim.



06 dezembro 2011

Seja você a Lua nessa relação onde se busca o calor do Sol.
Habite o espaço sem censura, aproveitando cada minúcia deste fenômeno. Lute em virtude de méritos que, acima de tudo, alimentem o seu ego. Desvende os mistérios da sua casa que também é de todos nós. Mostre sua capacidade, mas não se supervalorize por ela. Seja natural que a sua naturalidade é o que te transforma. Aceite a distância de modo como se ela não tivesse sequer importância - nem força - contra sua vontade.
Corra para alcançar seu desejo, mas obedeça as limitações do tempo: embora seu sonho encontra-se em outra dimensão, é preciso presentear aqueles que estão por aqui desejando-te. Depois prossiga rumo a sua caminhada em ciclos vitais contínuos e eternos, onde é certo um impossível encontro, mas uma incansável ambição.
Lembre-se sempre de ser a Lua, pois o tempo fará com que as duas oposições se encontrem quando não haver mais procura, apenas a aceitação. Não se esforce demasiadamente, mas também não desista sem lutar: as melhores conquistas são frutos de delongas e suadas batalhas. Que haja justiça e ciência, sem desbancar os presentes e nutrir o ódio de quem caminha em sentidos semelhantes. E acalme-se. A Lua, apesar de todas as suas voltas atrás do Sol em vão, sabe que seu empenho é válido, pois o mesmo acompanha-a de onde estiver para onde ela está.


Goste do que tens e só assim terás o que gosta.

30 novembro 2011

Cadência

Como se eu tivesse a leveza de um som acalmente e mente utópica de quem acredita, aproveitaria a passagem e, feito estrangeira, viajaria nos arredores que esta estrela cadente futuramente passará. Não me estabeleceria em local nenhum, pois estaria de passagem; apenas apreciaria as belezas de cada um. Conheceria o superficial e, sem me aprofundar nas coisas, partiria sem sentir remorso ou perturbação. A viagem me privaria de sentimentos, transformando-me em corpo só alma, em alma sem previsão. Eu veria-te e de nada importaria, a não ser observar vagas pessoas que, como você, estão em atividade carnal nesse plano terrestre. Eu não sentiria.
Meu egocentrismo seria racional e não haveria sofrimento por isso. Não sentindo, eu não sentiria também a dor.
Eu estaria no universo, espaço onde o todo fizesse parte do meu domínio, mas isso de nada teria importância. Estaria, então, sozinha. Analisando os outros e analisando você. Sem saber que você, é o você que agora me fez sair desse lugar.
(...) Gostaria de estar lá. Talvez a solidão, de fato, verídica traria conhecimentos avançados sobre essa realidade que vejo. Lá eu não ligaria para as suas indiferenças, porque isso tudo seria uma grande bola de nada. Eu não esperaria desesperadamente por um sinal, pois eu me desconectada estaria. A partida seria suave e o adeus, mesmo sem dar-me conta que era o último, não seria pura dor. A despedida seria contente ou, no mínimo, despercebida.
No mais, eu não seria eu; e você não seria você.

16 novembro 2011

Dezesseis

Quando alguém lhe presentear com uma rosa, não negue-a por razão dos espinhos. A rejeição te fará segurá-la com rancor, podendo até ferir-te. Apenas aceite e plante-a em algum espaço dentro de você. Depois de um tempo, verá que seu crescimento é múltiplo e muitas delas brotarão; logo, esses espinhos não terão lacunas para ocupar seu incômodo. Seu jardim estará repleto e incrível demais para qualquer fragmento que antes o atrapalhava...
No fim desta colheita, portanto, não esqueça de dedicar ao menos uma rosa à este alguém, afinal, foi ele quem lhe ofertou a primeira muda. [...]

03 novembro 2011

Sobre o caminho que não devo ir

Nesses passos inibidos que me levam à direção contrária, onde os olhares sinceros que existem se personificam de inveja e descaso, o que tento é sobrepujar as desavenças impostas por quem não merece vitórias. Exceder a barreira monumental pode ser mais complicado do que a imaginação se deixa fluir. É o muro que separa o realista da alma que vagueia sem rumo pelo idealismo.
Sejamos apáticos! O nefelibata é quem vive de modo discrepante, e por essa razão, vive. A vida vai além de dramas aparentes e atenções desnecessárias.
Ainda temos de viver como se não fosse dor a dor que sentimos. Não lidaremos com a chuva, se nos privarmos dela toda vez que aparecer.
Uma mente evoluída é discernente em relação às outras; destaca-se. Torno a sentir a cobiça emocional, a rivalidade desmotivada, a destruição interna em si presente por aqui. O que as pessoas enxergam vagarosamente é apenas o prêmio, desvalorizando o caminho doloroso e repleto de vidros pelo chão. O topo pertence a quem faz jus ao seu significado.
Permaneceremos em nossos devidos lugares, não ultrapassando a margem que nos pertence, assim teremos o que de fato nos é interessante.
Sejamos nós inocentes e abertos, mas tenhamos conhecimento; o ceticismo nos diferencia do alheio.
Seremos.
E seremos preponderantes que, para nós, não precisará de mais nada.

17 outubro 2011

Surpreende

Incansavelmente, o que está rispidamente desgastado, ocupa novamente o cargo de importância elevada e, em mim, sabe como induzir a mente ao colapso total. Vejo essa mesma mente em oscilamento frequente causando transtorno não apenas para mim, mas também para quem permanece ao meu lado sem desconfiar de nada que acontece por aqui.
Tento de todos os modos imagináveis buscar uma solução eficaz que traga não somente o valor escrito do que procuro, mas a real personalidade que veste este mesmo. Por mais que existam novas vontades, a maior delas está intacta.
Sentimentos se dilaceram em vão. Mesmo eu sabendo que o crescimento fora de proporção me remove de realidades cabíveis para o agora. Estou acelerando, quando deveria ter ficado no lugar.
Porque o início é superficial e traz a verdade à tona apenas no auge da ilusão. O meio, porém, resplandece dúvidas. Dolorosamente posso sentir que, enquanto uns sofrem a ausência de fato impossibilitada, trago comigo a suposta ocupação.
O mais incrível de tudo é que essa dor torna-se mínima quando se comparada ao tamanho daquilo que me coloquei a sentir. Você tem a capacidade rara de mostrar-se surpreendente, muitas pelas vezes pelo simples ato de dizer palavras inconexas ou atitudes não pensadas.
Posso, ainda, encontrar as ditas qualidades em alguns outros, porém cada qual será remetido ao singular. Sendo que somente em você estão todas elas reunidas.
(...) Muitos são aqueles que eu gostaria de manter por perto; e muitos também são os que admiro de longe. Em suma existe um único, que se compromete inocentemente a ser todos.