14 março 2011

O assassinato

Era uma quinta-feira, e percorria o trajeto de volta para casa após o dia de trabalho. Avistou, logo no cruzamento da primeira esquina, faróis camuflando-se entre luzes vermelhas. Algo havia acontecido ali. Resolveu parar e, na maior inocência, quis entender o acontecimento. Alguns presentes ali comentavam sobre o acidente e logo constatou que o mesmo se tratava de um possível assassinato. A vítima era uma mulher de aproximadamente 30 anos, que havia sido encontrada morta dentro da sala principal de um apartamento.
Não demorou muito e os policiais invadiram o local em busca de pistas deixadas pelo, até então, assassino. Sua curiosidade o deixava inquieto e quis ver quem era a mulher. Com muita cautela, chegou perto e assustou-se: a mulher da qual a vida não se tinha mais, era sua esposa. A mulher era a mãe de seu filho. Automaticamente, pôs-se a chorar e não acreditava no que via. Não sabia que atitude tomar, para onde ir, o que fazer. Pensou no filho que, às 22:30h, já estava dormindo em casa. Deixou seus sentimentos nas mãos dos policiais e entrou no carro novamente, em direção à sua casa. No caminho, sua cabeça estava perplexa. Mas não deixou de ter fé, ainda que o pior havia acontecido.
Chegou em casa e, cansado, encostou-se no braço do sofá, olhando fixamente a mesa de centro. Lágrimas em excesso escorriam em seu rosto, deixando marcas de uma angústia sem fim. Chorava, mesmo sabendo que isso não ajudaria agora. Escutou passos descendo a escada e, ao olhar para trás, viu seu filho correndo em sua direção. Limpou o rosto, tentando esconder a tristeza.
- Papai, que bom que chegou! Estava te esperando para jogarmos futebol... – disse o menino que, sem imaginar o que acontecera, esbanjava alegria nos seus pequeninos olhos verdes.
Sem força para responder, o segurou em seus braços por alguns instantes, pensando um jeito de contar a verdade.
- Onde está a mamãe? – os olhos ainda brilhavam.
- A mamãe logo chega, meu anjo. Enquanto isso, lembre-se que ela – e Deus – o amam demais. Vamos dormir agora?
Subiu as escadas, com o seu pequeno anjo no colo. O colocou na cama, deu um beijo e desejou boa-noite. Apagou as luzes e ficou observando-o enquanto tentava dormir. Foi em direção ao seu quarto e viu a cama de casal, agora vazia. Chorava, chorava bastante. Aproximou, abaixou-se e tentou descansar. Mas, seus pensamentos inquietos o proibiam.
Contudo, nesse mesmo instante, os policiais encontraram ao lado da caixa de remédios tranquilizantes, uma carta. E nela, o desabafo:

"Estou relatando aqui o meu último adeus e peço para que se cuidem. Vou partir, mas vou partir feliz. Não se culpem. Cuidem-se. E, lembrem-se, nunca apaguem a estrela chamada Fé. Tenho ela aqui comigo e deixei uma com cada um de vocês. Amo-os demais."

Agora, mesmo sem saber da carta, consegue descansar. Não sabe se foi a presença dela que o iluminou ou a sua estrela chamada Fé que brilharia mais forte, o chamando para o descanso eterno.

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